Descrição de chapéu Opinião

Mulheres precisam olhar para o espelho ao enfrentar o machismo, diz executiva do Carrefour

Silvana Balbo reflete sobre os obstáculos presentes na trajetória profissional feminina

Silvana Balbo

Desde pequena —morando no interior, filha de um pai muçulmano e uma mãe criada em família tradicional— percebi as diferenças entre homens e mulheres. Meu pai era o provedor e chefe da família, impunha respeito pelo olhar quando o assunto era a nossa performance escolar. Minha mãe era assistente social, mas não exercia sua profissão para não ir contra a vontade do marido.

De ambos, cresci ouvindo que deveria ser livre e ter a minha profissão. Saí de casa muito nova, buscando essa independência e a construção da minha própria história, mas muitos foram os obstáculos que deixaram claras as diferenças de gênero ou o quanto o viés consciente ou inconsciente torna o caminho das mulheres mais difícil.

No mundo, apenas 50% das mulheres em idade economicamente ativa estão no mercado de trabalho e ainda se submetem a ganhar cerca de 20% menos do que os homens em funções semelhantes.

Nesses 26 anos de carreira, tive a chance de conviver com muitas mulheres em diversos segmentos, níveis hierárquicos e tipos de ambição. Algumas semelhanças entre elas (e eu, lógico!) me ajudam a compreender essas estatísticas.

Em primeiro lugar, o ideal de sucesso feminino passa pela vida pessoal, pela constituição de uma família ou de um casamento bem-sucedido, antes de se realizarem como profissionais. E, mesmo que não admitam ou que isso não seja um viés consciente, quando elas estão ascendendo profissionalmente, têm dificuldade em pedir ajuda aos seus parceirxs e dividir o que deveria ser um papel dos dois.

A segunda semelhança é que a grande maioria de nós vive a “síndrome da impostora”. Nunca nos sentimos suficientemente preparadas para uma posição maior e buscamos nos outros a segurança que deveria estar dentro de nós. Talvez essa seja mais uma característica cultural e inconsciente e, como diz Reshma Saujani, fundadora da Girls Who Code: nós definitivamente criamos as meninas para serem perfeitas, enquanto criamos os meninos para serem corajosos.

A terceira característica de parte das mulheres é não ajudarem umas às outras. O termo sororidade tem surgido como sinônimo de mulheres que se apoiam, na tentativa de combater a competição
(e, muitas vezes, a sabotagem) e contribuir para mudar os percentuais tímidos nos níveis executivos das empresas.

Não tenho dúvida de que o preconceito contra as mulheres deve ser enfrentado, mas sempre fui a favor de olhar primeiro no espelho antes de olhar pela janela: ao mesmo tempo que devemos combater esse traço cultural e atrasado nos outros, devemos começar por nós mesmas, sendo mais autoconfiantes, mais unidas e dando aos nossos filhos os estímulos e referências de gêneros com direitos e potencialidades iguais.

E você? Está olhando pela janela ou ajudando a mudar a imagem do espelho?

Silvana Balbo é diretora de marketing do Carrefour Brasil

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