Sou nativa da mata atlântica. Nasci numa cidade que tem de um lado a serra do Itapeti e de outro, a serra do Mar. Mogi das Cruzes é também cortada pelo rio Tietê, que nasce bem próximo, em Salesópolis.
Desde criança, conheço bem esse lugar. Meu pai pilotava monomotores, e passava com ele muitos finais de semana sobrevoando e visitando essa região e outros trechos do bioma. A paisagem vista do céu é algo extraordinário e esse exercício ajudou muito, anos mais tarde, entre 1994 e 2021, quando coordenei o Atlas da Mata Atlântica, ferramenta para monitorar o desmatamento, desenvolvida pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Dos meus olhos sobre o horizonte, virei ambientalista, ampliando a visão com os olhos dos satélites. No trabalho, pude observar, indignada e triste, muitas áreas desmatadas, queimadas e devastadas. O conhecimento só aumentou minha vontade de lutar cada vez mais em defesa da mata atlântica. Tive oportunidade de admirar muitas florestas preservadas e protegidas. E também de conhecer muitas pessoas, comunidades, organizações, iniciativas e suas histórias incríveis.
Uma trilha na mata atlântica é das coisas que mais gosto de fazer. Ela atinge 17 estados, 3.429 municípios, 16 capitais e as principais metrópoles —pois é a casa de dois terços da população. Abriga ainda belíssimos parques e reservas, pouco visitados.
O bioma concentra 80% do nosso PIB, com muitas empresas e atividades econômicas instaladas. Quando comecei a atuar nessa causa, havia poucas companhias aliadas. Depois, o assunto virou moda e surgiu o marketing verde. Por um período, era difícil distinguir as empresas que levavam o meio ambiente a sério das que apenas queriam se promover. Mas algumas continuaram a evolução, perseguindo uma produção mais sustentável, com menor impacto e apoiando ONGs e iniciativas comprometidas com a causa ambiental.
Com os princípios do ESG, mais empresas adotaram melhores práticas. As marcas, com grande alcance e recursos, podem fazer a diferença por um ambiente mais equilibrado e com qualidade de vida. A forma como elas se relacionam com a natureza e estimulam seu público para uma agenda sustentável é crucial.
O Brasil tem um potencial enorme para promover o desenvolvimento aliado à conservação da natureza, inclusive no turismo, com geração de trabalho e renda para as comunidades e os empreendedores locais. Precisamos de mais consumidores de natureza, no bom sentido.
A natureza pode tocar e marcar as pessoas com boas experiências e fazer bem para a nossa saúde. Sonho com um futuro próspero para a mata atlântica, que foi alçada a patrimônio nacional pela importância que tem para o país e que ganhou seu nome de uma árvore do bioma. Esse futuro será alcançado com o comprometimento real das empresas e de toda a sociedade.
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