Descrição de chapéu Opinião Marcia Hirota

Marcas podem fazer a diferença por um planeta mais equilibrado

Marcia Hirota escreve sobre a importância delas estimularem seu público para uma agenda sustentável

Marcia Hirota

Presidente do conselho da Fundação SOS Mata Atlântica

Sou nativa da mata atlântica. Nasci numa cidade que tem de um lado a serra do Itapeti e de outro, a serra do Mar. Mogi das Cruzes é também cortada pelo rio Tietê, que nasce bem próximo, em Salesópolis.

Desde criança, conheço bem esse lugar. Meu pai pilotava monomotores, e passava com ele muitos finais de semana sobrevoando e visitando essa região e outros trechos do bioma. A paisagem vista do céu é algo extraordinário e esse exercício ajudou muito, anos mais tarde, entre 1994 e 2021, quando coordenei o Atlas da Mata Atlântica, ferramenta para monitorar o desmatamento, desenvolvida pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Dos meus olhos sobre o horizonte, virei ambientalista, ampliando a visão com os olhos dos satélites. No trabalho, pude observar, indignada e triste, muitas áreas desmatadas, queimadas e devastadas. O conhecimento só aumentou minha vontade de lutar cada vez mais em defesa da mata atlântica. Tive oportunidade de admirar muitas florestas preservadas e protegidas. E também de conhecer muitas pessoas, comunidades, organizações, iniciativas e suas histórias incríveis.

Marcia Hirota, 61, ambientalista e Presidente do conselho da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, no quintal do seu apartamento na Vila Mariana
Marcia Hirota, 61, ambientalista e Presidente do conselho da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, no quintal do seu apartamento na Vila Mariana - Eduardo Knapp/Folhapress

Uma trilha na mata atlântica é das coisas que mais gosto de fazer. Ela atinge 17 estados, 3.429 municípios, 16 capitais e as principais metrópoles —pois é a casa de dois terços da população. Abriga ainda belíssimos parques e reservas, pouco visitados.

O bioma concentra 80% do nosso PIB, com muitas empresas e atividades econômicas instaladas. Quando comecei a atuar nessa causa, havia poucas companhias aliadas. Depois, o assunto virou moda e surgiu o marketing verde. Por um período, era difícil distinguir as empresas que levavam o meio ambiente a sério das que apenas queriam se promover. Mas algumas continuaram a evolução, perseguindo uma produção mais sustentável, com menor impacto e apoiando ONGs e iniciativas comprometidas com a causa ambiental.

Com os princípios do ESG, mais empresas adotaram melhores práticas. As marcas, com grande alcance e recursos, podem fazer a diferença por um ambiente mais equilibrado e com qualidade de vida. A forma como elas se relacionam com a natureza e estimulam seu público para uma agenda sustentável é crucial.

O Brasil tem um potencial enorme para promover o desenvolvimento aliado à conservação da natureza, inclusive no turismo, com geração de trabalho e renda para as comunidades e os empreendedores locais. Precisamos de mais consumidores de natureza, no bom sentido.

A natureza pode tocar e marcar as pessoas com boas experiências e fazer bem para a nossa saúde. Sonho com um futuro próspero para a mata atlântica, que foi alçada a patrimônio nacional pela importância que tem para o país e que ganhou seu nome de uma árvore do bioma. Esse futuro será alcançado com o comprometimento real das empresas e de toda a sociedade.

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