Discutem, concordam, discordam, voltam a concordar, dão passos para trás e, quando poucos parecem acreditar... surge um acordo histórico. Na Cúpula do Clima da ONU, as negociações entre os países são acidentadas. A responsabilidade por pavimentar essa rota, no entanto, vai além da ação dos governos. As marcas mais lembradas pelos brasileiros, na Folha Top of Mind, vivem esse compromisso.
Em 2025, na COP30, em Belém, suas ações estarão mais aparentes —e alinhadas ao espírito do encontro, realizado no coração da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia.
A Folha Top of Mind é a mais importante e respeitada premiação de lembrança de marcas da América Latina. Realizada pelo Instituto Datafolha desde 1991, a pesquisa entrevista brasileiros de todas as regiões. Assim como a memória dessas marcas se provou com o tempo, a cúpula do clima no Brasil reflete a passagem de um período de preparação para aumentar a ambição na redução de emissões de gases do efeito estufa e garantir o financiamento para ações climáticas. São compromissos que passam necessariamente pelo envolvimento do setor privado.
E o que algumas das marcas mais lembradas no Brasil fazem nesse sentido?
Dona da Omo, que acumula o maior número de vitórias na categoria especial Top do Top, a Unilever diz que tem um plano de ação para a transição climática.
Entre as metas da empresa, está acabar com a poluição plástica a longo prazo. Marcas da multinacional como Hellmann’s, Fofo, Tresemmé e Seda já utilizam 100% do material reciclado em suas embalagens.
Juliana Abreu, gerente de sustentabilidade da Unilever Brasil, afirma que a empresa dá passos importantes, como na fábrica de sabão em pó em Indaiatuba (SP), que alcançou 96% de redução na emissão de CO2 por ano. Segundo ela, a COP30, em Belém, será um marco. "Teremos uma grande oportunidade de trazer para perto a sensibilização da urgência que é debater as mudanças climáticas na Amazônia, além de encontrar soluções para os problemas ambientais que afetam o planeta", diz.
A Nike, outra marca com longa trajetória de conquistas no Top do Top, mantém uma parceria com a Fundação SOS Amazônia. "Essa iniciativa visa, entre outras ações, restaurar 200 hectares da floresta amazônica, plantando 400 mil árvores até 2025 a partir do engajamento e da valorização das comunidades locais", afirma Gustavo Viana, diretor de marketing da Fisia, distribuidora da Nike no Brasil.
Uma das principais produtoras de petróleo e gás do mundo, a Petrobras —vencedora das categorias Marca que Representa o Brasil e Performance em 2024— investe, entre outras ações, no programa carbono neutro. A iniciativa conta com um fundo de US$1 bilhão para o quinquênio 2024-2028.
A empresa informa que o percentual de alocação do orçamento total em pesquisa, desenvolvimento e inovação em baixo carbono passou para 15% neste ano e deve chegar a 30% em 2028. Paralelamente, a Petrobras e o BNDES iniciaram estudos sobre um fundo de corporate venture capital.
A intenção é apoiar as micro, pequenas e médias empresas, com enfoque na transição energética.
Maior vencedor da categoria Site de Compras da Folha Top of Mind, o Mercado Livre criou em 2021 o programa Regenera América. De acordo com Laura Motta, gerente sênior de sustentabilidade, a empresa concluiu em 2024 a primeira etapa. Foram US$ 23,7 milhões investidos e mais de 15 mil hectares de floresta nativa restaurados ou conservados.
"O programa gera impactos socioeconômicos positivos para as comunidades locais por meio de pagamentos por serviços ambientais, geração de créditos de carbono futuros e fomento à geração de empregos e renda associados à cadeia da restauração", afirma.
MODELO DE NEGÓCIO NA AMAZÔNIA
Segundo a CDP América Latina, organização internacional que mede o impacto ambiental de companhias e governos em escala mundial, 54% das empresas no Brasil têm um processo de identificação e avaliação de riscos e oportunidades relacionados ao clima. Mas apenas 22% estabelecem metas de redução de emissão.
Primeira fabricante de automóveis do mundo a assinar o Acordo de Paris, que limita o aquecimento global a 1,5ºC acima do nível pré-industrial, a Volkswagen afirma que está se preparando para contribuir com as metas de sustentabilidade que serão discutidas na COP30. Sua estratégia global Way to Zero visa alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
A maior campeã do Top Carro pretende ampliar sua atuação. "Em 2024, as fábricas paulistas Anchieta, em São Bernardo do Campo, e Taubaté iniciarão o uso de biometano, uma fonte de energia renovável, reduzindo as emissões de CO2 em até 99% em processos produtivos como a pintura de carrocerias", diz Maria Helena Calado, supervisora de sustentabilidade da Volkswagen do Brasil.
Referência na categoria especial Preservação do Meio Ambiente, a Natura atua há 24 anos na região amazônica com um modelo de negócio baseado na sociobioeconomia. Em setembro, anunciou seu novo plano de transição climática, com o compromisso de zerar as emissões líquidas até 2030.
"Temos de regenerar o planeta e essa é a missão da Natura junto a parceiros, consumidores e toda a sociedade nos próximos cinco anos, um tema ao qual daremos muita ênfase durante a COP30, além da regeneração da biodiversidade e prosperidade para as populações locais por meio de negócios mais sustentáveis", afirma Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura.
Enquanto as marcas dão mostras de envolvimento com as metas globais de descarbonização, cabe ao setor público fazer a sua parte. Dados do Instituto Trata Brasil apontam que 80,1% da população de Belém vive sem acesso à coleta de esgoto. A média nacional é de 44,5%. Durante a cúpula do clima, este e outros problemas estarão à vista de todos.
O Governo do Estado informa que trabalha em ao menos 30 obras para o evento, orçadas em R$ 4 bilhões neste ano. Além de iniciativas de mobilidade urbana e ampliação das acomodações, estão previstas intervenções nos problemas de saneamento básico, macrodrenagem na Grande Belém e paisagismo.
Se o caminho para a COP já foi traçado, o trajeto que leva a um futuro sustentável ainda está em obras.
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