Uber é a marca mais lembrada na estreia da categoria Top Aplicativo de Viagem

CVC e Gol seguem na ponta entre os destaques do Top Turismo

São Paulo

A temporada de verão e o Réveillon que se avizinham serão o grande teste de retomada da indústria de turismo. Com o avanço da vacinação, o relaxamento de parte das restrições e a reabertura de fronteiras, muitos brasileiros estão tirando os planos de viagem da gaveta e fazendo as malas para descobrir o Brasil e, quiçá, o mundo.

Com esse cenário se desenhando, empresas do setor recuperam o otimismo e começam a ganhar fôlego. Maior operadora do país, a CVC já observa um avanço nas vendas no segundo semestre deste ano. Segundo Daniela Bertoldo, diretora-executiva dos negócios para consumidor da CVC Corp, a companhia até alcança os números de vendas de 2019 em alguns destinos nacionais, como Maceió (AL) e Porto Seguro (BA).

Pelo 11º ano consecutivo, a agência de viagem foi a mais lembrada pelos brasileiros na pesquisa Datafolha. Obteve 16% das menções espontâneas —uma queda, porém, de dez pontos percentuais em relação ao estudo anterior e seu menor índice nos últimos oito anos.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em parceria com a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens), entre junho e julho, seis em cada dez agências de turismo no país preveem um aumento no faturamento até dezembro.

"É um setor que foi muito valente e que está voltando com gás para atender a uma demanda que, parece, vai ser bem grande", diz Magda Nassar, presidente da Abav Nacional. Desde maio, as agências vivem um processo de recuperação. "Começou com um crescimento pequeno, mas importante, porque não volta para trás."

Entretanto, ela faz uma ressalva: "O retorno de viagens é o primeiro desejo de consumo do pós-pandemia, mas o fechamento de pacotes ainda não é tão grande quanto esse desejo do cliente".

A recuperação total do setor com o alcance dos níveis pré-pandêmicos deve ocorrer apenas no ano que vem, avalia Frederico Levy, vice-presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo).

A volta do turismo internacional é a principal expectativa para puxar a retomada econômica. "Com as fronteiras abertas, podemos vender o mundo", resume Levy. Por outro lado, a alta do dólar deve desanimar parte dos turistas brasileiros que querem viajar para fora.

"Existe uma demanda reprimida tão grande para viagens ao exterior que o crescimento das vendas é imediato após o anúncio da liberação. Elas chegam a aumentar em até dez vezes com as reaberturas", afirma Daniela Bertoldo, da CVC.

O vice-presidente da Braztoa destaca que esse retorno deve ser acompanhado com cautela, pois as regras de segurança dos países podem mudar de repente, a depender de novos índices da pandemia. "O cliente tem que estar ciente de que está comprando um produto de risco", diz.

Professor de turismo da USP, Alexandre Panosso Netto acredita que, agora, o brasileiro vai priorizar a viagem dos sonhos, em especial para outros países, que estava adiando há anos.

Depois de orientar a todos que ficassem em casa e viajassem no futuro, a CVC lançou a campanha "Não Assista a Esse Filme, Viva!", criada pela Lew’Lara\TBWA, em que convida clientes a partilharem memórias de viagens inesquecíveis.

Ela faz parte de uma nova fase da marca. Prestes a completar 50 anos, a operadora passou por uma transformação na identidade visual e no modelo das lojas. "Essa mudança representa o nosso momento de evolução, mais moderno e digital, com foco na experiência do consumidor, oferecendo assistência em todos os momentos da viagem", explica Daniela Bertoldo.

A CVC registra suas melhores performances entre os mais ricos (40%), os mais instruídos (37%), nas classes A e B (33%) e no Sudeste (23%).

Aplicativo de Viagem

Na categoria que estreia na pesquisa nacional do Instituto Datafolha, a Uber foi a mais lembrada quando se fala em aplicativo de viagem, com 10% das menções.

Em seguida, a 123Milhas recebeu 7% das citações —por conta da margem de erro, ambas empataram tecnicamente. No critério de desempate, o awareness, Uber levou a melhor, com 12% das respostas contra 8%.

A campeã se destaca entre os entrevistados que têm de 16 a 24 anos (17%). O aplicativo americano de serviço de transporte, que desembarcou por aqui em 2014, está presente em cerca de 10 mil cidades em 71 países e contabiliza 22 milhões de usuários no Brasil.

"Tivemos uma evolução enorme como marca nos últimos anos", diz Luciana Ceccato, diretora de marketing da Uber para o Brasil. "Quando falamos em Uber para pedir uma viagem, não há mais necessidade de explicar o que é, já se tornou sinônimo de categoria."

Para Mariana Aldrigui, professora de lazer e turismo da USP, a plataforma é considerada um complemento na viagem do turista, um meio de transporte seguro para se deslocar em um destino dentro ou fora do Brasil, o que pode explicar a vitória na categoria. "É um aplicativo usado em qualquer contexto, em todo tipo de viagem."

No pós-pandemia, avalia ela, o turista deve manter uma preferência pelo uso de serviços particulares de corrida para circular nas viagens e evitar aglomerações no transporte público.

Assim como tantos outros negócios, a Uber viu a demanda cair de maneira brusca devido ao isolamento social causado pelo coronavírus. Por outro lado, a procura pelo Uber Eats, seu serviço de delivery, explodiu no mesmo período. Em maio, lançou o Uber Flash, de entregas.

A empresa também atua em aeroportos com locais autorizados de embarque —hoje, está em cerca de 500 endereços no mundo. Em alguns aeroportos, como o Santos Dumont, no Rio, instalou lounges com bancos, tomadas para carregar celular e wi-fi. Nos próximos meses, há previsão de lançar funcionalidades no aplicativo, como a opção de incluir lembretes e comandos para otimizar as viagens.

Por conta da redução de voos em todo o Brasil, houve queda também nesse segmento. "No momento, porém, temos percebido um retorno consistente e gradual tanto nos aeroportos quanto nas viagens corporativas", diz a diretora de marketing da Uber.

Seis em cada dez brasileiros ouvidos pelo Datafolha não souberam citar um aplicativo de viagem. O desconhecimento é maior entre os mais velhos (80%) e menos escolarizados (75%).

Companhia Aérea

Citada por 26% dos entrevistados pelo Datafolha, a Gol conquista sua quinta vitória consecutiva na categoria. A empresa, que completa duas décadas, tem desempenho acima da média entre os mais instruídos (35%), nas classes A e B (34%), no estrato de renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos (34%) e no grupo de 25 a 34 anos (34%).

Com o avanço da vacinação, a maior companhia doméstica do país é outra a projetar um cenário positivo para o fim do ano e espera um aumento de 85% na receita no segundo semestre em relação ao mesmo período de 2020.

O mercado de viagens nacionais é visto como a primeira porta para sair da crise. Segundo Loraine Ricino, diretora de marketing, comunicação externa, canais digitais e sustentabilidade da Gol, o segmento já iniciou um movimento de recuperação consistente. "Ainda não nos níveis de 2019, mas mais próximo do considerado ponto de equilíbrio", informa a executiva.

No segundo trimestre de 2021, por exemplo, a empresa transportou 2,9 milhões de passageiros, um aumento de 366% em relação a 2020.

Enquanto isso, o mercado internacional se aquece aos poucos com a reabertura de fronteiras para turistas brasileiros. "Desde então, estamos avaliando o novo patamar de demanda e ajustando a sua malha aérea", afirma Ricino.

A Gol não ofertou voos regulares internacionais durante a pandemia, no entanto, a companhia planeja voltar a voar para o exterior a partir de novembro —já foram anunciados destinos como Punta Cana, Cancun e Montevidéu. EUA e outros países da América Latina também devem retornar ainda no fim de 2021.

Tanto Gol quanto Abav acreditam que os locais mais procurados seguirão o mesmo padrão de preferência dos brasileiros: cidades do Nordeste e países como EUA e Argentina —todos já tiveram aumento na busca na companhia.

De olho no futuro, a Gol anunciou o lançamento de uma nova malha aérea composta por 250 táxis aéreos, os chamados eVTOL: traduzido do inglês, uma aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical. A expectativa é iniciar a operação em meados de 2025.

Alinhada às tendências de ESG, sigla que se refere a boas práticas ambientais, sociais e de governança, vai substituir 75% de suas aeronaves até 2030 —a troca representará uma redução de 16% nas emissões de carbono. Em setembro, iniciou o primeiro trecho com voos carbono neutro do país, de Recife a Fernando de Noronha.

Assim como houve retração no Top Agência de Viagem, a lembrança da Gol também caiu em relação a 2020: de 33% para 26%, menor índice dos últimos cinco anos, quando subiu ao pódio.

Uma das explicações para a queda nas taxas de memória, diz a professora Mariana Aldrigui, é que o brasileiro optou por gastar com outras prioridades na pandemia. "Os planos de turismo são os primeiros a ficar de lado quando a renda está comprometida. E o viajante possivelmente bloqueou sua receptividade para anúncios."

Para ela, hábitos como o uso de máscara no avião e uma maior preocupação com a higienização devem permanecer no pós-pandemia. "As marcas que seguirem protocolos de higiene e mantiverem o respeito pelo consumidor serão lembradas e sairão na frente na retomada."

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