Descrição de chapéu Opinião

É hora de reconhecer talentos que não tiveram chance de se desenvolver, afirma líder da Unilever

Para Livy Silva, empresas devem quebrar barreiras que impedem o acesso de negros a posições corporativas

Livy Silva

Sou negra, neta de pedreiro e de uma dona de casa que só aprendeu a escrever depois dos 60 anos, mas sempre enxergou a educação como um fator de transformação que faria com que os seus tivessem uma realidade diferente.

Inspirados por ela, meus pais investiram muito em meus estudos, me permitindo galgar lugares que outras pessoas como eu não conseguiram. A população brasileira é composta por 56% de pessoas negras, o que não se reflete nas grandes empresas e nos espaços de poder. Essa é uma realidade que sempre me incomodou, me levando a fazer algo a respeito.

A educação é um direito de todos, mas nosso país teve um passado colonial e escravocrata que negou durante muito tempo o acesso de pessoas negras à educação, moradia e a outros direitos básicos e fundamentais. Isso tem um reflexo forte na sociedade até hoje, fazendo com que a educação de qualidade passe a se tornar um privilégio.

Tive a sorte de estar inserida em um contexto familiar que me propiciou acesso a boas oportunidades de estudo, o que fez muita diferença em minha trajetória, mas não me impediu de enfrentar barreiras.

Em minha época de recém-formada, lembro de experiências traumáticas com programas de trainee e estágio que exigiam dois idiomas, formação em faculdades de elite, vivência no exterior —apenas critérios elitistas e discriminatórios.

É urgente o movimento das pirâmides sociais para gerar oportunidades e quebrar barreiras que impedem pessoas negras de acessarem posições. É sobre reconhecer talentos que não tiveram oportunidade de se desenvolver. As ações afirmativas devem ser focadas no desenvolvimento de pessoas e na criação de espaços onde suas competências possam ser valorizadas, para que trilhem caminhos que até então não lhes eram permitidos.

Sou coordenadora de projetos na área de supply chain da Unilever Brasil e uma das líderes do Afrolever, que surgiu do incômodo de três estagiárias negras que não se viam representadas nos corredores, nas propagandas e nos produtos. Esse movimento se transformou em um coletivo étnico-racial, que tem papel ativo na estratégia de diversidade da empresa.

Temos dedicado esforços para endereçar nossos principais objetivos: conscientização racial, promoção de letramento, revisão de políticas de atração, recrutamento e seleção, desenvolvimento e progressão de carreira para talentos negros, engajamento das marcas e fortalecimento da imagem da Unilever como empregadora que valoriza a diversidade racial.

Hoje posso dizer que me sinto realizada por trabalhar em uma empresa que me permite fazer parte dessa mudança. A Unilever incentiva que alinhemos nossos propósitos a nossos objetivos de carreira, entendendo que diversidade e inclusão se fazem com interseccionalidade. Meu principal objetivo é deixar um legado de transformação e abrir espaços para os próximos que virão.

Livy Silva é coordenadora de projetos na área de supply chain e uma das líderes do Afrolever na Unilever

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