CVC e Gol mantêm liderança folgada no Top Turismo

Empresas tradicionais do setor ganham força em ano que viu a quebra de agências online

Maristela do Valle
São Paulo

As recentes crises atingindo empresas de turismo online como 123milhas e Hurb (antigo Hotel Urbano), que não entregaram viagens compradas pelos clientes, acabaram fortalecendo agências consolidadas. Quando o consumidor se sente inseguro para tomar uma decisão, o papel do agente é muito respeitado, avalia Mariana Aldrigui, professora de turismo da USP e gerente de pesquisas e inteligência de dados da Embratur.

Esse profissional é acionado, principalmente, quando a pessoa quer fazer um roteiro complexo ou pode gastar um valor extra para ter menos trabalho e mais segurança, acrescenta ela. Exemplo desse movimento é a procura pelas lojas físicas da CVC, que cresceu no início do segundo semestre, segundo Emerson Belan, diretor-geral da companhia.

Única a vencer a categoria Top Agência de Viagem desde sua criação, em 2011, a marca foi citada neste ano por 17% dos entrevistados pelo Datafolha, atingindo sua 13ª conquista em 13 edições.

Ilustração Top Turismo
Estúdio Caxa

Seus melhores índices ocorreram entre os brasileiros com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos (47%) e os mais escolarizados (40%).

Com 51 anos de operação, o grupo recontratou antigos diretores, formando a "nova velha CVC". De acordo com Belan, esses líderes têm agilidade para colocar a empresa no caminho certo, sem perder credibilidade e assistência, que fazem parte do seu DNA. Já a nova CVC, diz, está preparada para a jornada omnicanal, que começa na loja e termina no aplicativo ou site e vice-versa.

"Ainda não posso falar números, mas a CVC tem, até o final de 2024, um dos maiores planos de expansão de unidades físicas da sua história", conta o executivo.

Práticas ESG também estão entre as prioridades da "nova" agência. Na área ambiental, todos os clientes que viajam para Porto de Galinhas (PE) colaboram com a restauração dos recifes de corais locais, pois o valor do pacote já embute uma contribuição para a startup Biofábrica de Corais. A iniciativa será ampliada, ainda neste ano, para as praias de Alagoas. Além disso, os carros da Movida alugados por meio da CVC compensam carbono.

A própria Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens) vem incentivando o setor de turismo a adotar ações sustentáveis e socialmente responsáveis. Em 2023, sua feira anual promoveu doação de sangue e distribuiu o selo "1ª Jornada Abav ESG" para expositores com projetos ligados à sigla.

"Se todos os nossos 2.300 associados praticarem uma ação de sustentabilidade de forma firme, coesa e longeva, a gente vai ter um grupo grande de pessoas preocupadas com o tema, colocando isso no seu dia a dia. A Abav quer ser um grande multiplicador dessas iniciativas", diz Magda Nassar, presidente da entidade.

COMPANHIA AÉREA

A agenda ESG também é prioritária para a Gol, a companhia aérea mais lembrada na Folha Top of Mind desde 2017 —nesta edição da pesquisa, a marca recebeu 30% das citações.

Com destaque nas classes A e B (37%), entre os mais instruídos (36%) e nas regiões metropolitanas (34%), a Gol tem sete vitórias consecutivas na categoria, cujas maiores vencedoras são Varig e TAM, hoje Latam —cada uma delas acumula nove conquistas.

Em setembro, a campeã lançou o avião verde #MeuVooCompensa, uma espécie de outdoor de suas iniciativas em prol do meio ambiente. Sem rota fixa, a aeronave faz voos nacionais e internacionais. O interior, adesivado, tem função educativa e procura estimular a adesão dos passageiros à compra de créditos de carbono, oferecidos no ato da aquisição do bilhete.

Menos de 1% dos clientes pagam por esse opcional, segundo Beatriz Cabral, CMO (chief marketing 0fficer) do Grupo Gol Smiles. "A população brasileira não se enxerga como corresponsável da empresa na compensação do carbono."

De junho de 2021 a agosto último, cerca de 15,4 mil toneladas de CO2 foram compensadas com três frentes: adesão voluntária dos viajantes, duas rotas carbono neutro —Recife (PE)-Fernando de Noronha (PE) e Congonhas (SP)-Bonito (MS)— e ações com parceiros, como o Grupo Águia.

Desde o início do Campeonato Brasileiro da Série A deste ano, times de futebol que viajam exclusivamente com o grupo e fazem deslocamentos aéreos com a Gol estão compensando suas emissões. Até a última rodada, serão percorridos 683 mil km —a projeção é de uma compensação total de 4 mil toneladas de CO2.

A Top Companhia Aérea é, ainda, a primeira latino-americana a fazer compensação de SAF (combustível sustentável de aviação), que o Brasil não produz. Como o transporte desse combustível geraria carbono, a Gol paga para empresas estrangeiras voarem com ele.

O Brasil nem sequer tem uma legislação para sua fabricação. "As perspectivas são a partir de 2027. É importante que o marco regulatório seja acelerado", afirma Beatriz Cabral. Também em setembro, a companhia passou a reciclar uma quantidade de lixo equivalente a 200% do total produzido a bordo, numa parceria com a startup Eureciclo. "A gente tem uma estimativa de reciclar mil toneladas de material anualmente", ressalta a CMO.

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