Vulnerabilidade é vista hoje como sinal de coragem, afirma diretor da Colgate-Palmolive

Diretor sênior de recursos humanos da companhia no Brasil escreve sobre ambientes de trabalho saudáveis

Daniel Arouca
São Paulo

Eu valorizo demais os benefícios de uma atmosfera positiva no ambiente de trabalho. Olho para quando comecei minha carreira em Recursos Humanos, no início do ano 2000, e percebo que a maior parte das empresas não tinha o bem-estar dos funcionários em foco, muito menos programas de qualidade de vida.

Temas que hoje estão presentes no cotidiano, como diversidade e inclusão, segurança psicológica e conceitos de times de alta performance não estavam tão presentes nas conversas.

Lembro muito bem de um episódio daquela época que me marcou, quando um profissional expôs publicamente uma deficiência em seu estilo de liderança. Aquilo foi uma exposição de sua vulnerabilidade --e a repercussão e comentários sobre aquela exposição me causaram choque. A vulnerabilidade era vista como sinal de fraqueza, mas vejo que isso começa a mudar. Vejo um futuro promissor na busca por segurança psicológica nas empresas.

Daniel Arouca é diretor sênior de recursos humanos da Colgate-Palmolive Brasil
Daniel Arouca é diretor sênior de recursos humanos da Colgate-Palmolive Brasil - Adriano Vizoni/Folhapress

Em parte, acredito que esse movimento avançou com a pandemia, quando vidas pessoais e profissionais se misturaram de várias formas. Começamos a ver mais de perto as outras facetas dos nossos colegas, que também são mães, pais, filhos, tutores de pets, artistas, atletas, etc.

Confesso que, como muitas pessoas, vivi tempos difíceis durante aquele período. O plano de ação para melhorar minha saúde mental foi incorporar no dia a dia hábitos mais saudáveis, como a prática de exercícios físicos, além da disciplina de horários. Vivi na pele também a vulnerabilidade de expor situações para ajustes --e abrir diálogos com colegas foi fundamental para buscar uma qualidade de vida melhor.

Todo esse movimento expõe ao mundo corporativo nossa vulnerabilidade —e vulnerabilidade tem se tornado sinal de coragem e compromisso com o desenvolvimento, uma indicação clara de diferentes níveis de maturidade

Vi muitos casos de profissionais que tiveram foco no resultado, até conseguiram superar metas, mas se esqueceram do equilíbrio adequado

Daniel Arouca

diretor sênior de recursos humanos da Colgate-Palmolive Brasil

Para mim, esse é um caminho sem volta. Vulnerabilidade permite autenticidade e bem-estar. Tenho observado, nos times em que atuo, que a correlação entre bem-estar e performance se intensificou. Vi muitos casos de profissionais que tiveram foco no resultado, até conseguiram superar metas, mas se esqueceram do equilíbrio adequado. E isso não é sustentável a longo prazo. Mais cedo ou mais tarde, acaba impactando os resultados.

Fato é que o olhar corporativo estará cada vez mais atento a programas de bem-estar holístico, qualidade de vida e segurança psicológica. Não somente pelo aspecto de negócio, com foco em produtividade e engajamento, mas considerando uma abordagem mais humana, empática e centrada nas pessoas, que devem estar no coração da operação das empresas e da cultura organizacional.

Portanto, seja você ou não um líder de equipe, tenha sempre esse tema no seu radar e busque alcançar um equilíbrio entre vida pessoal e trabalho que funcione. Faça também sua parte, apoiando aqueles ao seu redor para alcançarem o que funciona de acordo com as características de cada um. Assim, é possível maximizar as conexões e a inclusão, permitindo que as pessoas tragam suas melhores versões para o ambiente de trabalho.

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