Ode à diversidade: 5 artistas customizam a mascote do Top of Mind

De Ganesha a deusa indígena: elefante ligado à história da pesquisa Datafolha ganha cinco esculturas

São Paulo

Maior animal terrestre e símbolo de boa memória, a mascote do principal prêmio sobre lembrança de marcas da América Latina cresceu e se multiplicou.

Nesta edição da Folha Top of Mind, o simpático elefante, ícone da pesquisa, surge em cinco versões criadas por artistas plásticos, grafiteiros e designers.

A ideia partiu de Roberto Zenker, produtor da cerimônia de premiação. "Definimos que seriam cinco esculturas customizadas, que poderiam ser exploradas também em ações pós-evento", diz.

Elefante artístico em comemoração à 33ª edição da Folha Top Of Mind, feito pelo artista plástico Gonçalo Borges.
Elefante artístico em comemoração à 33ª edição da Folha Top Of Mind, feito pelo artista plástico Gonçalo Borges. - Adriano Vizoni/Folhapress

A diretriz de incluir diversidade nas obras que seriam criadas veio de Henrique EDMX Montanari, curador do projeto e um dos participantes da exposição.

O tema permeia tanto a escolha dos artistas —de mulheres que moram em periferias do país a pessoas com deficiência que pintam com a boca— quanto a inspiração das obras. "Procurei artistas que também estivessem dando algo de volta para a sociedade, seja em forma de pintura de mural, seja por meio de arte-educação", explica EDMX.

"Achei a ideia animal, porque a Folha tem essa pegada de inclusão", diz Zenker.

Com 1,5 m de altura por 2,3 m de largura, os elefantes da Folha Top of Mind 2023 são feitos de isopor, MDF e massa acrílica, materiais que tornam as peças mais leves e fáceis de transportar.

Fator importante, já que depois da entrega dos prêmios às marcas, os elefantes devem passear pela cidade de São Paulo. A ideia é que eles marquem presença em espaços públicos que também celebrem a inclusão e a diversidade.

UNIÃO DE POVOS DA DESIGNER GRÁFICA AUÁ MENDES, 24

Duas mulheres de etnias diferentes imprimem no elefante da artista indígena o que ela busca retratar em suas obras: a feminilidade.

Originária do povo Mura, no Amazonas, Mendes cresceu conectada à arte. "É algo muito intrínseco em nossas vidas", conta. Neste trabalho de personalização do símbolo do Top of Mind, ela buscou relacionar a realidade brasileira com a origem do elefante africano.

Foi assim que a artista chegou ao povo Bamileke, da região de Camarões, país da África Central, onde o elefante é cultuado como uma deusa.

"A parte da frente da obra é uma máscara de elefante feita com grafismos tradicionais da região, e as laterais trazem uma indígena africana Bamileke e uma indígena Mura, representando essa conexão de povos", conta a artista.

Auá Mendes vive em São Paulo e trabalha como designer no Museu das Culturas Indígenas, mas já pintou murais pelo Brasil afora, além de levar sua arte para países como Chile, Estados Unidos e Alemanha.

X DO ARTISTA PLÁSTICO CIRO SCHU, 42

O título desta obra não tem a ver com rede social. Trata-se de uma provocação do artista para que as pessoas "despertem seu lado inconsciente".

"Não trabalho com algo literal. Quero que as pessoas procurem uma interpretação pessoal", diz Ciro Schu.

Conectado ao centro de São Paulo, sua principal influência vem do ambiente urbano e do caos da metrópole, em cenários que emergiram nos anos 1990, quando começou a trabalhar com grafite. "O que me motiva é a rua." O artista cria com ferro, madeira, vidro, borracha —nas mãos dele, tudo vira arte. Seu trabalho, analisa, é o de ressignificar objetos. "Mais do que reciclar, valorizo cada um historicamente."

Para a criação do seu elefante, porém, foi comedido nos materiais: utilizou só spray e tinta acrílica. "Trabalhei mais com a pintura, percorrendo as linhas e o movimento dele, para deixá-lo em evidência. Não quis agregar muito, porque ele por si só já tem uma potência", explica. "Alterar a forma seria tirar o seu significado."

GANESHA DO ARTISTA PLÁSTICO GONÇALO BORGES, 71

Foi com a boca e os pés que o pintor Gonçalo Borges produziu sua mascote para esta edição da Folha Top of Mind.

O artista buscou referências no multicolorismo indiano para criar sua versão de Ganesha, deus da sabedoria e da prosperidade. "Minha esposa é aficionada pelas belezas da Índia. A inspiração, na verdade, veio dela", brinca.

A deficiência congênita que paralisou seus membros superiores nunca foi um impedimento para o seu desenvolvimento artístico.

Pós-graduado em artes plásticas pela Escola de Belas Artes de São Paulo, na juventude enfrentou o preconceito de diretores e coordenadores para conseguir estudar.

Recorreu à AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), onde aprendeu a ler e escrever e foi apresentado ao pincel e à aquarela.

Teve apoio de colegas da Associação dos Pintores com a Boca e os Pés, que congrega artistas que não têm o movimento das mãos. Hoje, é um dos mais ativos do grupo.

TECHNO JUNGLE DO ARTISTA MULTIMÍDIA HENRIQUE EDMX MONTANARI, 46

Arte e tecnologia andam de mãos dadas no trabalho de EDMX, como é conhecido o artista multimídia.

O mergulho na street art veio por sua ligação com a música —ele tocou numa banda punk no fim dos anos 1990. "Meu interesse pelas intervenções começou aí", lembra EDMX, que rodava por diferentes cantos da metrópole, colocando cartazes para divulgar seus shows.

Hoje, ele tem murais de destaque assinados na capital paulista —por exemplo, no elevado Costa e Silva, o Minhocão.

Também coleciona alguns prêmios, como o American Arts Award.

Mas o artista não se define como grafiteiro. Paulistano da zona sul, enveredou por caminhos tecnológicos depois de se formar em artes plásticas, pela Unesp, e fazer pós-graduação na Seneca College, no Canadá.

Além de animações digitais, EDMX gosta de trabalhar com spray, material usado em seu colorido elefante, que, segundo ele, carrega traços do grafite ao mesmo tempo em que remete à modernidade. Sua escultura tem tecnologia de realidade aumentada, que permite a visualização do elefante nos smartphones.

PASSARINHAS DA ARTISTA VISUAL, ARTEEDUCADORA E ESTILISTA LAÍS DA LAMA, 35

Não foi no sabiá-laranjeira, que durante a primavera costuma tirar o sono de alguns paulistanos, que a artista nascida na periferia da zona leste de São Paulo buscou inspiração para criar o seu elefante —tampouco em outra ave. "Gosto da ideia do passarinho no sentido da liberdade."

O sobrenome artístico de Laís é uma homenagem ao clássico disco "Da Lama ao Caos", de Chico Science & Nação Zumbi. Criada à beira do córrego do Limoeiro, lama, terra e plantas sempre fizeram parte do seu universo.

A força das mulheres da família é outro elemento determinante em seu processo de criação. "Na família do meu pai e também na da minha mãe, as matriarcas sempre foram muito presentes", conta.

Mas quando começou a criar, em 2008, o universo do grafite era território majoritariamente masculino, o que, lembra ela, impossibilitou Lama de dar vazão a essas referências. "Passarinhas", então, recupera essa homenagem.

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